Mulher é expulsa de voo após se recusar a despachar mochila; testemunha acusa companhia aérea de racismo Jovem estava no avião que fazia a rota entre Salvador e São Paulo.

Uma mulher foi expulsa, na noite de sexta-feira (28), de um avião da Gol que faria a rota entre Salvador e São Paulo. Uma testemunha fala em racismo. Imagens que circulam nas redes sociais mostram a passageira Samantha Vitena questionando, dentro do avião, a abordagem de três homens da Polícia Federal que a tiraram do voo.
A Gol informou que a mulher não seguiu viagem porque “não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas”. Em nota, a companhia disse que Samantha foi retirada por “medida de segurança”.

Segundo uma testemunha, a jornalista Elaine Hazin, Samantha foi ignorada por comissários quando precisou de lugar para guardar sua mochila no bagageiro dentro do avião. Em seguida, como Samantha não encontrou lugar para a mochila, a tripulação pediu que ela fosse despachada, mas a passageira se negou a despachar, devido ao risco de dano ao seu computador, que estava lá dentro.

A passageira, então, teria sido auxiliada por outros passageiros, e não por comissários, até encontrar espaço para guardar a mochila. Mesmo assim, ainda segundo a testemunha, três agentes da Polícia Federal que disseram ter sido chamados pelo comandante, a expulsaram do voo (leia mais abaixo). Elaine Hazin classificou o episódio como sendo um fato “extremamente violento de racismo”.

Nas redes sociais, o Ministério das Mulheres se pronunciou sobre o caso ao dizer que o caso contra Samantha Vitena “demonstra o racismo e a misoginia que atingem de forma estrutural as mulheres negras em nosso país”.

Disse ainda que “a cena é uma afronta a Samantha e a todas as mulheres negras”. E informou que vai pedir providências à companhia aérea e à PF, que “devem desculpas e explicações após a abordagem”.

Voo já estava com mais de uma hora de atraso
A jornalista que testemunhou o ocorrido relatou ao g1 que foram momentos de tensão na aeronave. Ela conta que o voo estava com mais de uma hora de atraso quando os passageiros foram convocados ao embarque. As pessoas começaram a colocar suas bagagens nos compartimentos dentro do avião, mas Samantha não encontrou local para sua mochila.

A discussão na aeronave começou porque, ao ser solicitada a despachar a bagagem, a passageira sinalizou que seu notebook estava dentro da mochila e seria prejudicado se fosse despachado.

A jornalista Elaine conta que, durante a discussão com Samantha, um tripulante da Gol teria dito: “Se você não despachar, a gente não sai daqui. Ou você despacha ou você sai do voo”.

Como o clima ficou exaltado, Elaine diz ter ajudado a jovem a colocar sua mochila no bagageiro. Depois da discussão, o avião ficou mais cerca de uma hora parado, até que três homens com identificação da Polícia Federal entraram na aeronave.

“Chegaram de modo truculento e disseram que a levariam por ordem do comandante. Um deles falou: ‘Se a senhora não se retirar desse voo agora, não vamos decolar. A senhora tem que sair!’. Foi uma angústia, um terror, uma violência”.

O que disse a companhia aérea
Por meio de sua assessoria, a Gol informou que havia uma grande quantidade de bagagens para serem acomodadas a bordo e muitos clientes colaboraram ao despachar os volumes gratuitamente. No entanto, “uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo”.

A empresa lamentou os transtornos e disse que a situação foi causada por “medidas de segurança”. A companhia ressaltou que segue apurando o caso.

A Polícia Federal informou que foi acionada pela companhia para efetuar o desembarque da passageira, que não teria acatado as ordens do comandante do voo, referentes à segurança de acomodação de bagagens.

Afirmou também que, de acordo com a Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, o comandante exerce autoridade desde o momento em que se apresenta para o voo até o momento em que entrega a aeronave, tendo autonomia para solicitar apoio da Polícia Federal.

A PF informou ainda que passageira foi ouvida pelo órgão e liberada em seguida. As circunstâncias do fato estão sendo apuradas. Tanto a Gol como a PF foram questionadas sobre as acusações de racismo, mas não se pronunciaram sobre o assunto.

A assessoria do aeroporto de Salvador informou que não se pronunciaria sobre o ocorrido.